“Os tais 140 caracteres refletem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido.” Essa afirmação poderia ter sido feita por qualquer pessoa, mas seu autor é José Saramago, logo, a de se relevá-la. O escritor português, ganhador de um prêmio Nobel de literatura, refere-se à nova ferramenta de comunicação da internet e que já virou moda em todo o mundo, o twitter.
Para quem andou congelado nos últimos meses, claro que não é o seu caso (assim espero), o twitter é uma mídia social via internet que permite que seus usuários escrevam qualquer coisa que desejarem, dentro de uma limitação de 140 caracteres (contam-se letras e espaços), essas informações podem ser visualizadas por qualquer outro usuário que resolva “seguir” esse escritor da web. Em síntese, é um sistema de micro-blogs. Há de se ressaltar que essa forma de mídia social não é tão inédita assim e tampouco demonstra uma revolução na comunicação, ela apenas representa uma tendência.
Várias são as teorias a respeito da comunicação ainda presentes atualmente, mas as predominantes concordam em um aspecto, a linguagem usada precisa ser compreendida pelo público, do contrário, não há comunicação. É possível notar, sem muita dificuldade, que essa é uma das principais dificuldades para uma boa comunicação nos dias de hoje, a exemplo do próprio Saramago, que, desconsiderando a qualidade do conteúdo escrito, atinge um público muito restrito.
A sua crítica está pautada no fato do twitter estimular seus usuários a um estilo de linguagem mais simples, reduzindo sentenças e procurando palavras de uso mais comum, muitas vezes do vocabulário popular, pois são justamente essas características que o tornaram famoso e que continuam atraindo mais adeptos a cada dia. O aplicativo representa justamente a tendência de simplificar a linguagem e resumir informações para uma melhor comunicação, capaz de atingir mais pessoas e de maneira mais eficaz. Ao contrário do que disse o escritor, essa é evolução, simplificar para ampliar.
Essa mudança é gradual e constante, afinal o que fazem os jornalistas se não sintetizar e traduzir as informações para uma linguagem mais acessível ao público.
O que Saramago, e tantos outros não entendem é que linguagem e comunicação podem, e deveriam sempre, trabalhar unidas. Não há demérito ou “involução” alguma nessa simplificação, há sim a constante adaptação da linguagem em prol da comunicação, do contrário estaríamos todos “subindo os degraus” rumo à era da incomunicabilidade.